quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O olhar Geográfico!


De olho na Geografia

O OLHAR DE UM PROFESSOR DE GEOGRAFIA

Por Celso Antunes

Pense em um cientista debruçado sobre um microscópio e acompanhando com atenção e interesse a evolução de uma célula qualquer. Com essa descrição não é possível saber em qual ramo das ciências se concentra seu estudo, mas uma coisa é certa. Esse cientista, provavelmente, não é um geógrafo, pois Geografia é a ciência dos espaços amplos, das grandes paisagens. Um biólogo, por exemplo, pode dedicar sua vida de pesquisas a uma folha ou a único inseto. Um geógrafo não ignora essa folha e esse inseto, mas o examina no amplo contexto da paisagem em que o inseto ou a folha se encontram e qual o papel deste contexto sobre sua vida e o papel de sua ação transformando esta paisagem. 
Para o biólogo a folha e sua árvore, o inseto e seu habitat, para o geógrafo a paisagem vegetal e seu espaço, o mundo animal e suas correlações com a natureza e com as pessoas. 
Esse cuidado é sempre muito importante para quem ensina a Geografia. Não existe um fato geográfico em um único fenômeno, seja esse acidente um planalto ou uma cidade, e sim na análise cuidadosa desse fenômeno interagindo com seu entorno e suas muitas relações com as pessoas. 
Um vulcão, por exemplo, torna-se “fato geográfico” quando se localiza o lugar em que está, quando se examina suas características e origem, se percebe sua ação e os riscos sociais da mesma. Quando se examina a lava que expeliu e que, tempos depois, se transformou em solo, justificando a ocupação humana e a atividade agrícola, exigindo estradas e tornando viável o comércio dos produtos que se cultiva e de outros tantos necessários a esses agricultores. Como bem explicava o geógrafo Milton Santos (SANTOS, MILTON. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. São Paulo, Hucitec, 1996) o espaço geográfico é a configuração territorial dos objetos geográficos e seu conteúdo social, a vida que lhes dá sentido e os anima. No exemplo do vulcão citado, é ele o “objeto geográfico” e é a análise de seu “conteúdo social” que lhe dá sentido e o anima.
Um professor de Geografia, quando contempla qualquer morro, logo pensa em globalização, aparentemente distante de seu olhar, mas sabe que a distância apenas se aparenta, pois quem no morro mora usa coisas que compra na cidade ativando comércio, agitando importações. Para as pessoas comuns, o morro que este professor enxerga é somente morro, somente floresta, somente rancho, quem sabe? 
Mas, como professor de Geografia que é, aprendeu que terras e homens se integram e nessa interação muitas vezes o clima ou a selva calam o homem, mas este, com suas ferramentas, modela e esculpe novas naturezas, alterando o clima, domando selva, que não se imaginou contida. Na simplicidade das pessoas que habitam morro, se mostra presente a China e a Tailândia, a Coreia e o Paraguai. O morro que agora olha é espaço geográfico, é fato que esculpe interações. 


Celso Antunes é bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo, mestre em Ciências Humanas e especialista em Inteligência e Cognição. Membro consultor da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar, reconhecida pela UNESCO, é autor de cerca de 180 livros.  

Matéria publicada na Revista Direcional Educador - Edição 63 de abril/2010


Profª Josy

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